quarta-feira, 6 de maio de 2009

Diálogo

Toc. Toc.

- Quem é?
- Deus Pai Todo-Poderoso Criador do Céu e da Terra, meu filho.
- Impossível.
- O que é impossível?
- Você ser meu pai.
- Por quê?
- Conheço meu pai, e o nome dele não é tão estranho assim.
- Também sou pai do seu pai.
- Quando ele nasceu?
- 16 de Setembro de 1920, às 6:00hrs de um domingo ensolarado. Modéstia a parte, foi um belo dia.
- Você vai me perdoar...
- Sempre o faço, meu filho.
- ... mas é um pouco difícil acreditar que você seja meu avô. Quer dizer, meu último nome é Silva, e não Terra.
- Essa tolice de outros nomes não foi ideia minha, posso-lhe assegurar, meu filho.
- Já disse que tenho um pai de verdade, que me criou e me ensinou a distinguir o certo do errado, então pode parar com esse papo de 'meu filho', que já tou ficando nervoso contigo.
- Pode ficar, filho. Durante todos esses anos, a Ira é um dos principais motivos que trazem seus irmãos e irmãs à mim. Sou aquele que existe para ser xingado quando não há mais quem xingar.
- Você deve ter uma vida dura...
- Há suas vantagens. Também sou aquele que é amado acima de todas as outras coisas.
- Não é unaminidade, vou logo avisando. Amo minha filha acima de tudo e todos.
- Essa, meu filho, foi minha ideia mais brilhante.
- Minha filha?
- A Maçã.

segunda-feira, 4 de maio de 2009

Coisas do futebol

Depois de vencer a LDU e ver a derrota do Colo-Colo, um sentimento estranho surgiu dentro de mim. Não era a tradicional confiança do torcedor, que sempre espera uma vitória do seu time, por mais improvável que ela possa ser. Era uma sensação mais consistente, como se houvesse uma voz dentro da minha cabeça constantemente falando "vamos vencer o Colo-Colo, vamos vencer o Colo-Colo...", em sua companhia estava a habitual voz declarando "Precisamos vencer o Colo-Colo, força Palmeiras!"
E foi assim ao longo dos dias, até o momento da partida. Coração batendo num ritmo acelerado, mente livre de qualquer outro pensamento além do jogo, a voz torcedora quase sem fôlego de tanto gritar "vamo ganhar porco!", e a outra, a nova, sempre da mesma forma "vamos ganhar do Colo-Colo, vamos ganhar do Colo-Colo..."
Assisti ao jogo sozinho, no sofá da sala, vibrando com cada ataque, lamentando cada bola na trave e chance perdida, sofrendo com cada investida adversária. Fim de primeito tempo, 0 x 0.
A voz torcedora já não gritava tanto, faltava apenas 45min e o time já havia mostrado que na hora de decidir a partida com aquele gol salvador, não conseguia. Mas como todo bom torcedor, continuava acreditando. A outra, bem, continuava na mesma.
Segundo tempo. O time cai de rendimento, o gol se afasta mais ainda, a voz torcedora atinge o nível de desespero total.
30min do segundo tempo. A voz torcedora se cala, na expectativa, torce em silêncio. A outra voz finalmente muda seu discurso "Isso é estranho, tenho certeza de que vamos vencer esse jogo."
35min do sengundo tempo. A voz torcedora espera por um milagre, uma bola rebatida que sobra dentro da área, um penalti chorado, uma cabeçada do 3º andar... A outra voz me diz "sente no sofá e aguarde, o gol não tarda." A obedeci.
41min do segundo tempo. Cleiton Xavier está com a bola, peço em silêncio para que toque pra alguém, afinal, havia errado 90% dos cruzamentos naquele jogo. Ele não toca, ao invés disso tira o marcador da jogada e bate. É tudo muito rápido, no segundo seguinte a rede está balançando, que chute, que curva, que golaço!!!
A voz torcedora grita de emoção "Ganhamos porra! Caralho, sabia que a íamos vencer essa merda!"
A outra voz se cala.
Desde então, apenas a voz torcedora continua falando comigo "No Palestra o Sport não tem chance! Vamo ganhar porcooo!".
Aguardo ansiosamente a volta da outra voz...